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Em Cachoeiro de Itapemirim (ES), o vereador Higner Mansur (PSB) não usa seu gabinete oficial para conversar com as pessoas que o procuram. Optou por recebê-las no Café Mourad’s

No Café Mourad's, o 'barman' Barbosa Garcia, o vereador Higner Mansur e o proprietário Jorge Mourad


Por Valerio Fabris

Em Cachoeiro de Itapemirim (ES), o vereador Higner Mansur (PSB) não usa seu gabinete oficial para conversar com as pessoas que o procuram. Optou por recebê-las no Café Mourad’s, na praça central da cidade, onde se localizam também a Câmara Municipal e a sede da prefeitura. Há 20 anos ele tem sido um frequentador regular do estabelecimento, fundado em 1991. Nos seus dois mandatos anteriores de vereador, já preferia marcar o Mourad’s como o local para atender os que lhe solicitavam uma audiência.

No dia primeiro de janeiro de 2017, logo depois de encerrada a cerimônia de sua posse na Câmara, atravessou a praça em direção ao café. O proprietário e os funcionários do estabelecimento receberam o vereador com uma pequena placa. No alto, gravou-se a inscrição ‘Gabinete 12’. E, logo abaixo, o nome do empossado. O vereador jamais utiliza o seu gabinete formal (de número 12) para atendimentos pessoais, mas somente a mesa do Mourad’s que lhe é reservada em tempo integral.

O pessoal do Café acabou institucionalizando o que Mansur já praticava. Advogado e articulista na imprensa local, o vereador tem notório apego aos livros. É reconhecido por ser leitor e colecionador de tudo o que haja sido editado da obra do filósofo, historiador e diplomata renascentista, Niccolò Machiavelli. Outro pensador italiano que especialmente lhe interessa é Norberto Bobbio (1909-2004), filósofo, militante político, ensaísta e professor, considerado uma das mais destacadas personalidades do século XX.

Um dos pilares do ideário socialdemocrata de Bobbio pode ser sintetizado na fórmula encontrada por Mansur, para dar a mais ampla transparência aos seus atos políticos: a democracia é o regime do poder visível. Uma vez que é inviável a prática da democracia direta, o poder tem de ser exercido de forma francamente aberta, sem votações secretas e com as interlocuções ocorrendo face a face, perante a testemunhas, sem os véus da invisibilidade e os subterrâneos das relações inconfessadas e inconfessáveis. Ele recebe os eleitores com água, café cappuccino ou expresso, por sua conta.

O vereador conversa sentado à sua mesa do Mourad’s com até duas a três pessoas por dia, inclusive aos sábados, sem acolher pedidos de emprego. Considera apenas as solicitações que digam respeito ao “interesse público”. Entre as pautas mais recorrentes que lhe chegam à mesa quase vizinha à calçada da praça estão os temas do artesanato e da cultura em geral, do turismo e das questões urbanísticas relativas ao Plano Diretor Municipal.

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