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Empresas apostam na praticidade de consumir as bebidas em praias e parques

Augusto Simões, sócio do Grupo Jungle, no escritório da empresa, em São Paulo - Adriano Vizoni/Folhapress


Inspiradas no sucesso dos coquetéis enlatados nos Estados Unidos, marcas artesanais estão lançando bebidas desse tipo no Brasil, entre elas o gim-tônica e o mojito (rum, limão e hortelã). Segundo a Nielsen, a venda desses produtos cresceu 40% nos EUA entre 2018 e 2019.

“O movimento veio para ficar porque atende uma situação de consumo diferente: o cliente abre mão de uma experiência de bar, mas ganha facilidade”, diz Alan Kuhar, professor de marketing da ESPM. As versões de negroni (mistura de Campari, vermute e gim) e de gim-tônica em lata do Grupo Jungle, de São Paulo, foram lançadas em outubro. O primeiro lote, de 600 latas, que funcionou como teste, foi vendido em dois meses.

Em novembro, a empresa deu continuidade à produção e, em três meses, vendeu 4.000 latas. A meta para 2020 é fabricar 300 mil unidades. Com esses resultados, a marca planeja colocar no mercado, até o fim do semestre, outras duas receitas de drinques enlatados, diz o sócio André Clemente, 42. “Com a lata não tem regra, você consome na praia, no parque, onde quiser”, afirma o também sócio Augusto Simões Lopes, 41.

O grupo, que já vendia drinques prontos em garrafa (entre eles, negroni e rabo de galo, feito com cachaça e vermute) e é dono de uma marca de gim artesanal, decidiu investir nas latinhas depois de estudar esse mercado fora do país.

A LeMule, de Porto Alegre, tem uma história semelhante. Começou há dois anos como uma fábrica que produz drinques em barris, vendidos a bares e restaurantes. Em junho de 2019, decidiu apostar também em coquetéis enlatados e viu o número de clientes subir de 90 para 250. “O drinque em barril precisa de torneira de chope para ser servido e, por isso, funciona para estabelecimentos que têm certa estrutura”, diz Ricardo Petrus, 38, gestor da LeMule. Já as latas são vendidas para restaurantes que não têm bartender, mas querem servir um drinque artesanal, explica ele.

Hoje, os drinques em lata respondem por 40% da produção LeMule. São quatro bebidas: gim-tônica, mojito, moscow mule (à base de vodca e ginger beer, espécie de refrigerante de gengibre) e nude (bebida alcoólica gaseificada com sabor de fruta que faz sucesso nos EUA).

Todos os insumos usados nas receitas são feitos na própria fábrica, segundo Petrus. As vendas do nude, coquetel mais produzido pela companhia gaúcha, se multiplicaram por seis desde seu lançamento, em julho de 2019. Em março deste ano, a empresa pretende também lançar uma linha para atender supermercados e distribuidores.

O escoamento da produção pode ser uma das dificuldades desse mercado, já que a logística responde por até 40% do custo de um produto, afirma Alan Kuhar, da ESPM. “É necessário se tornar conhecido primeiro para ter acesso a redes de varejo e distribuição”, diz o professor. Depois disso, é preciso também trabalhar a capacidade de produção para atender um possível aumento na demanda. Foi o que aconteceu com a Vivant, do Rio, marca de vinhos em latinha lançada em janeiro de 2019. Quatro meses depois, ela captou R$ 2 milhões para intensificar ações de marketing, aumentar a capacidade de produção e se preparar para o varejo. Hoje, está presente nas redes St. Marche, em São Paulo, e Zona Sul, no Rio, além de restaurantes —a rede Bráz Elettrica é um deles. Em 2019, a Vivant teve faturamento de R$ 1,2 milhão, 40% acima do projetado. A expectativa para este ano é quintuplicar esse número, diz o sócio da marca Alex Homburger, 26.

A empresa nasceu com a ideia de vender vinho para um público jovem, ainda em garrafas de vidro convencionais. Até que um dos sócios passou por uma situação incômoda em uma festa, ao tentar interagir com amigos enquanto segurava uma garrafa na mão e uma taça na outra. “Sabemos que o momento de celebrar com uma garrafa de espumante não vai morrer. Mas existem ocasiões de consumo diferentes para explorar”, afirma Homburger.

O fator praticidade é visto pela marca como uma oportunidade de vencer a barreira que alguns consumidores têm em beber vinho de latas. “Muita gente fica desconfiada, sem saber se o vinho tem qualidade. É um dos desafios que enfrentamos”, diz Homburger. Para lidar com essa resistência, a Ginta, marca carioca de gim-tônica em lata, apostou em um design que transmite a informação de que o produto é feito de forma artesanal —a expressão em inglês “craft drink” está impressa logo abaixo do logo. Entre os sócios, a empresa tem um bartender italiano, que ajudou a desenvolver as receitas de gim e água tônica usadas nas quatro versões vendidas. Tudo é feito em fábricas terceirizadas, a exemplo das cervejarias ciganas, como são conhecidas as marcas artesanais que alugam uma fábrica para produzir.

No caso da Ginta, o gim é processado em uma destilaria e a tônica em uma cervejaria, a mesma em que acontece o envase da gim-tônica. “Esse modelo dá muita flexibilidade à empresa, que não precisa fazer um investimento pesado em maquinário no começo. Preferimos direcionar esse recurso para marketing”, afirma o sócio Lourenço Caramuru de Paiva, 28. Para ele, o esquema é flexível. Caso a demanda cresça, é possível procurar uma fábrica maior, que permita aumentar o volume de produção.

A Ginta nasceu com um investimento de R$ 30 mil, usado para lançar um lote teste com 3.000 latas. Vendida em carrinhos com identidade visual própria, a bebida vendeu bem nos primeiros ensaios de blocos de Carnaval em janeiro —a expectativa é duplicar as vendas durante a folia. “É uma opção que antes não existia e se tornou atraente para quem não quer beber cerveja”, afirma Paiva.

Fonte: Folha de S.Paulo

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