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Muitos boêmios encontraram profissão. Turma tem desde amigos de antigos donos até fregueses fiéis

Os irmãos João e Pedro Campos vão ressuscitar, a partir de junho, o botequim Adonis, em Benfica, fechado desde fevereiro Foto: Márcio Ramos / Agência O GLOBO


Um bar que fecha é um golpe, ainda que etílico, nos boêmios. Mas, passado o choque de ver o point preferido entregar os pontos, é preciso manter a sobriedade e enxergar, em vez de um copo meio vazio, uma oportunidade de manter o local vivo. Foi o que fizeram os irmãos João e Pedro Campos, que vão ressuscitar, a partir de junho, o botequim Adonis, em Benfica, no Rio de Janeiro, fechado desde fevereiro.

A dupla, que já cuida dos vizinhos Casa do Galeto e Dom Pedro, teve o aval para relançar o Adonis dado pelo ex-dono da casa, Joaquim Antero, o Seu Antero. Ele herdou o bar, construído em 1952, de seu pai, o português Antero Alves da Silva. Desde então, o espaço fez tanto sucesso que virou Patrimônio Cultural Carioca em 2012.

— Foi Seu Antero que não aguentou mais e decidiu passar para nós. Os dois cozinheiros e o copeiro vão continuar na casa — disse João, que também vai garantir a permanência dos bolinhos de bacalhau e da chopeira com serpentina de 90 metros que fizeram a fama da casa.

A Zona Sul também tem diversos “anjos”. Em Botafogo, a Adega da Velha, que passou por maus momentos de abandono e esvaziamento, pertence ao casal Elaine e Sérgio Rabello desde dezembro do ano passado. O bar, criado em 1960 por uma senhora, foi depois comprado por Seu Chico, que focou na comida nordestina. O lugar acabou sendo, aos poucos, abandonado, e há quatro anos não atraía mais tantos fregueses. Agora, o casal que assumiu o local decidido a reconquistar os clientes perdidos, investiu numa reforma geral, que durou quatro meses. A decoração pode ter mudado, mas a carne de sol acebolada e o baião de dois continuam como carros-chefe. E ainda tem caldinho pernambucano, sarapatel e a famosa galinha ao molho pardo.

Aqui é praticamente um patrimônio da cidade. Nós tínhamos muita pouca opção de comida nordestina, então a ideia foi pegar, arrumar, fazer “barba, cabelo e bigode” e devolver para essa turma que sempre prestigiou — disse Sérgio que, com a empreitada, repete a sua própria história como dono do Galeto Sat’s, que assumiu há dez anos, depois da desistência do negócio por parte de um grupo de espanhóis.

Por uma adoção parecida passou também a Adega Pérola, o bar de estilo português que figura em Copacabana desde 1957. Depois que o dono, da Ilha da Madeira, morreu, em 2010, três antigos clientes compraram a casa e mantiveram as características originais. Mas com um “upgrade”: elevar os tapas do balcão para mais de 100 opções, como sardinha escabeche, cavaquinha e alho em conserva. O contador Ricardo Martins, que conheceu o lugar aos 12 anos junto do pai, e hoje é sócio, se lembra de como o local era um símbolo entre os conterrâneos.

— Hoje, eu sou o único sócio português da casa, e a frequência está bem mais jovem. Vem gente do teatro, da noitada... Antigamente, não tinha tanta gente nova no bar.

E a boemia também continua salva em Copacabana, no Bip Bip, que segue firme e forte após a morte do dono, Alfredinho, em março. Hoje, a gerência é feita por uma comissão de cerca de dez amigos, que sempre frequentaram o espaço.

Fonte: O Globo

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