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O social-liberalismo sofreu a maior derrota mundial desde o seu surgimento, no final da II Guerra. A centro-esquerda, que tem como objetivo primordial a promoção da justiça social dentro do capitalismo, foi eleitoralmente esmagada nos Estados Unidos.

O presidente eleito prometeu, para os próximos quatro anos, mandar às favas as conferências climáticas, a tolerância com os imigrantes, os acordos comerciais com os países asiáticos e latino-americanos banhados pelas águas do Oceano Pacífico.

O que ele fala aproxima-o de Putin, distancia-o de Angela Merkel, François Hollande e da primeira ministra britânica, Theresa May.

O homem também mandou às favas a cúpula do seu Partido Republicano, os institutos de pesquisa, os analistas políticos, o politicamente correto.

Deu um pontapé no traseiro da região nordeste dos Estados Unidos, a chamada Nova Inglaterra, berço de uma nova nação, da sua Independência à Constituição, da criação da moeda nacional à vitória bélica contra os estados escravocratas do sul.

O mais denso e compacto reduto democrata é aquela fração do território americano, acima de Nova York, virada para o Atlântico. Vai de Rhode Island a Maine, passando por Connecticut, Massachusetts, New Hampshire e Vermont.

O nordeste dos Estados Unidos tem a maior concentração das melhores universidades do planeta: MIT, Harvard, Princeton, Yale, Columbia. Lá, Hillary ganhou de lavada.

O polêmico jornalista Paulo Francis dizia, naquele seu jeito debochado: “Os Estados Unidos são a Nova Inglaterra. O resto é Caixa-Prego rica, sem nenhum interesse cultural”.

De fato, a Nova Inglaterra é uma região culta demais, socialdemocrata demais e globalizada demais para um sujeito que justifica sua grosseria dizendo-se antipolítico e avesso ao establishment.

E o Brasil com isso? A agenda nacional está aí firme e forte. É a da socialdemocracia. Tudo o que Trump diz rejeitar é o que nós mais queremos por aqui: nossa presença cada vez maior nas conferências climáticas; nossa inserção cada vez maior na comunidade humana global; nossa interação cada vez maior com os países do Pacífico, do Atlântico e de todos os mares nunca dantes navegados.

Se a encrenca de Trump é com os mexicanos, islâmicos, desarmarmentistas, ambientalistas ou com os protegidos pelo programa de saúde de Obama, de nossa parte aplaudimos a Parceria Transpacífico, queremos nos aproximar ainda mais do Oriente Médio, somos crescentemente refratários à disseminada venda de armas, e nos preparamos para fortalecer ainda mais a rede de assistência social.

O que, afinal, precisamos para que nos tornemos este contraponto, com visibilidade global, inspirando o mundo a caminhar na direção oposta ao do recém-eleito lá de cima? É só arrumarmos a casa, ajeitarmos as contas do setor público, descomplicarmos nossa intrincadíssima legislação trabalhista, espanarmos os privilégios do sistema previdenciário, reduzirmos ao mínimo o número de partidos políticos, e por aí vai.

Todos sabemos de cor e salteado qual é a nossa agenda. Quando cuidarmos desta magnífica agenda com o mesmo grau de importância e interesse que dedicamos às eleições americanas.

O Brasil começará a emergir como potência global da socialdemocracia do século XXI, consolidando um capitalismo humano e muito bem ajeitado, conciliando a livre iniciativa com a justiça social, harmonizando o desenvolvimento econômico com a sustentabilidade.

O Brasil tem muito a ensinar ao mundo se for fiel a si mesmo.

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