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Por mais de 30 anos, Ricardo Amaral figurou na lista dos principais e mais bem sucedidos empresários da noite no Brasil. Foi fundador de casas inesquecíveis como a "Hippopotamus", o Hippo, primeiramente em São Paulo, depois em Salvador, Rio, Recife e Buenos Aires. A boate carioca foi por anos o ponto de encontro de gente bonita e de muitos famosos nacionais e internacionais, entre eles: Elton John, Prince, Silvia Amélia de Mello Franco Chagas, Danuza Leão, Jô Soares, Émerson Fittipaldi, Gal Costa, Pelé, entre outros.

Ele começou cedo. No início como jornalista. Aos 16 anos, quando ainda era estudante no Colégio Mackenzie foi ser colunista social do Shopping News, em São Paulo. A coluna ganhou o nome de "Jovem Guarda", que mais tarde foi utilizado para identificar o movimento musical que envolvia artistas como Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléa e outros. Nesta época ele já se atrevia a organizar festas e eventos, porém muito mais com a intenção de participar das festas do que ganhar dinheiro com elas.

Depois passou a assinar uma coluna diária (Jornal de Ricardo Amaral), no jornal Última Hora, de Samuel Wainer, na qual soltou diversas notas sobre as escapadelas matrimoniais do então governador paulista Adhemar de Barros, que o mandou embora do país. Na Europa, tornou-se correspondente do jornal em Roma e foi quando o jornalista começou a pensar como empresário. Voltou ao Brasil cheio sonhos e boas idéias e nunca mais as noites cariocas e paulistas foram as mesmas.

Além da Hippo, Ricardo foi proprietário de grande parte das casas noturnas mais famosas do Rio, como o Alô Alô (no Rio e em Nova York) a Sucata, Mamão com Açúcar, Gattopardo, Sal & Pimenta a boate Resumo da Ópera, que marcaram gerações de artistas, socialites e da juventude dos anos 70, 80 e 90. Criou a maior e mais badalada casa de espetáculos do Brasil, o Metropolitan, com uma programação nacional e internacional que incluía Roberto Carlos, Pavarotti, Caetano, Diana Ross, David Copperfield, Jô Soares, Santana, Marisa Monte, Momix, Mamonas Assassinas, Plácido Domingo!...

No exterior, abriu também clubes noturnos como o "Le 78", em Paris, o Club A e o Alô Alô, em Nova York, além dos restaurantes Bana Café e CT (com Claude Trisgros).

Aparentemente cansado da noite, Ricardo Amaral investiu no dia, desenvolvendo projetos na área imobiliária, de marketing em sua empresa Mais Rio e administrando duas unidades das badaladas academias de ginástica "Estação do Corpo". Além disso, em dezembro do ano passado lançou seu livro, “Ricardo Amaral Apresenta Vaudeville”, que já está entre os 10 mais vendidos no Brasil. Mas como nenhum Rei perde a majestade, ele retorna às noites no melhor estilo, resgatando a alegria e a tradição dos bailes de carnaval cariocas em sintonia com os tempos modernos.

Com toda sua experiência na área de entretenimento, ele acompanhou muitas mudanças na noite e na vida social do país. Nesta entrevista, além de lembrar um pouco de sua história, ele faz uma análise dessas transformações e deixa suas impressões sobre o comportamento do setor nos dias atuais.

1- Como foi sua transição de jornalista para empresário na área de entretenimento? O que o fez perceber que investir na noite seria um grande negócio? Comecei muito cedo. Com a coluna Jovem Guarda, título que deu o nome ao movimento musical, comecei escrever aos 16 anos, recém saído do ginásio. Aos 13 anos, no Mackenzie criei um clube de festas, que aconteciam quinzenalmente e em casas diferentes. Aos 17 anos realizei o primeiro Festival Nacional da Bossa Nova, em São Paulo. Aos 18 anos, concomitantemente com o jornalismo (jornal e TV) promovia as temporadas de inverno em Campos do Jordão e de verão no Guarujá. Enfim, não houve uma transição, tudo começou junto, naturalmente. Minha incursão na noite, muito precoce, não tinha o caráter “investir”, mas sim participar de uma festa que mal sabia o que era. Festa animada, mas dura, cada dia mais complicada.

2- Como foi a definição do foco de seus empreendimentos?

O titulo do meu livro “Ricardo Amaral apresenta Vaudeville” retrata exatamente o entra e sai de situações de uma trajetória atípica. O foco de minha foi entretenimento em geral, numa curiosa “missão” de inovar e divertir os outros.

3- Ao longo de três décadas você ocupou o posto de Rei da Noite. O que o fez abandonar a carreira de empresário da noite? Como foi essa transição?

Minha vida sempre foi pautada por desafios. Há oito anos me dedico a um trabalho interessante de criação, marketing e gestão do mais charmoso e importante empreendimento imobiliário do país. Trata-se da implantação de uma mini cidade, maior que o bairro de Copacabana, situada na Reserva Peró, entre Cabo Frio e Búzios. Para lá projetei também hotéis, clubes noturnos, beach clubs, restaurantes, um mix incrível.

Ou seja, não abandonei o entretenimento, ousei ainda um pouco mais! E, quem sabe, esse momento do Rio pode me animar a fazer algo. Claro, que nessa área com meu filho Rick no comando.

4- Quais as maiores dificuldades que os empresários que investem em casas noturnas enfrentam?

A primeira dificuldade é entender que esse negócio gira 24 horas. Durante o dia a administração de uma empresa como outra qualquer, com compras, controles, pagamentos, fiscalizações e o planejamento. À noite a função propriamente dita. A segunda a volatilidade do negócio. A terceira a dependência dos “promoters”!

5- Esse setor mudou muito? O que você percebe de diferença entre as casas que montou para as atuais casas noturnas?

A noite em todos os lugares do mundo era mais restrita. Os grupos dos boêmios em cada cidade pareciam uma confraria, onde todos se conheciam. Costumo dizer que a noite tinha nome e sobrenome. Hoje é uma multidão de anônimos, ao som de uma música insuportável. Matam a boemia. Ela era feita de conversa, sedução e uisquinho.

6- É difícil administrar casas que recebem muitas celebridades, artistas e políticos importantes como eram as suas? Quais eram as maiores dificuldades?

Não, o anônimo é mais difícil que os conhecidos. O maior segredo de como tratar a celebridade é a naturalidade. Ele é um cara igualzinho aos outros, merece o mesmo carinho, a mesma atenção. Nunca houve dificuldades nessa área. Repito, a palavra chave é: naturalidade!

7- Antigamente o meio artístico era mais glamoroso?

Costumo dizer que o glamour mudou, não acabou. É diferente. A abordagem jornalística era outra. Hoje, com a proliferação de revistas de “celebridades” (???) houve uma vulgarização do processo!

8- E como os empresários na época da Hippopotamus, da Black House lidavam com a questão das drogas? Hoje isto é diferente?

A droga sempre foi uma inimiga da noite. Ela interfere no comportamento, atrai figuras indesejáveis, desvirtua o principio básico de se divertir sadiamente. No Hippo suspendíamos por uma temporada, ou impedíamos simplesmente de entrar. Dava certo!

9- Porque não se consegue hoje repetir o sucesso que foi a Hippopotamus?

Tudo tem seu momento. Acredito que agora está acontecendo uma volta aos anos 70, a década mais animada da noite do mundo. Quem fizer profissionalmente um clube noturno de bom gosto tem tudo para acertar. Quem sabe? Bem, que sabe?

10- Como você enxerga o setor de alimentação fora do lar hoje? É uma área interessante e lucrativa para se investir? Acredita que o setor evoluiu?

O setor evoluiu muito. Os caminhos são claros. As operações mais rentáveis são as “mamas & papas”, aquelas em que as famílias atuam diretamente e tiram grande proveito do negócio. É, porém, altamente escravizante! É um “metiê”, um oficio, um trabalho duro. As grandes empresas do setor ganham mais em franquias, que em suas operações próprias. Os franqueadores sempre fazem um bom negócio e os franqueados se beneficiam com a “fórmula”. É um setor muito difícil, mas profundamente atraente! Haja vista o abre e fecha de restaurantes por esse mundo afora.

11- Nesta área é mais fácil investir aqui no Brasil ou no exterior?

Mais fácil? Não sei onde é mais duro! As dificuldades são as mesmas. Lá fora os famosos fundos de investimentos tem dedicado uma pequena parcela de recursos para o setor, dando lugar a investimentos criativos e pesados como o recém complexo gastronômico aberto em New York, Etaly, pelo Mario Batalli. Coisa de 25 milhões de dólares!

12- Na escolha de um restaurante, o que você prioriza? Qual é o seu predileto?

Sou eclético! Adoro a diversidade! Sou encantado pela cozinha do Fernand Adrià, do espanhol Il Bulli, sou apaixonado pelos bares de tapas de San Sebastian, amo de morrer a tasca portuguesa Gigi, do Algarve, ou do restaurante Puni em Portofino, mas fico feliz também com as tapas do Venga do Rio, a carninha do Esplanada Grill do Rio, ou do Wolfgang de NY. E se me perguntarem se prefiro tomar café da manhã no Talho Capixaba do Rio, ou no sofisticadíssimo Per Se de NY, fico sem saber o que responder! Agora, de uma coisa estou certo, meu restaurante do coração é o Jardim de Nápoles, em São Paulo. Adoro!

13- O que ficou mais marcante para você dos seus 30 anos de experiência na área de entretenimento? Que lições guardará para sempre?

30 anos?... Silêncio...um pouquinho mais! As lições do dia a dia são inúmeras, mas uma coisa é certa, a frase do emblemático produto da Broadway Ziegfeld é definitiva: “O maior problema dessa atividade é o sucesso. Com ele vem a coragem! E as próximas produções sempre apresentam surpresas!”. Ela pode ser adaptada a qualquer situação nessa atividade! E essa é minha: não sei o que é mais difícil de administrar, o grande sucesso, ou o fisco!

14- Seu livro é um registro fiel dessa sua experiência? Qual foi sua intenção ao lançar essa publicação?

Meu registro é a mais fiel versão da mais completa impressão! Essa é uma gozação minha, onde sutilmente conta como as pessoas vão deturpando histórias no correr do tempo. Minha intenção foi revisitar o meu passado. Contar do meu jeito a vivencia dos bastidores da política, jornalismo, sociedade. Conversar com meus leitores, como se estivesse na mesa de um bar. Colocar tudo junto como numa produção cinematográfica. Hoje, estou feliz e surpreendido. O livro, no momento em que estou dando esta entrevista está há seis semanas entre os 10 mais vendidos no Brasil.

15- Tem histórias que preferiu não contar neste livro?

Daria para escrever quatro, cinco, dez livros. Contei fatos e episódios que ficaram mais vivos em minha memória. Historias que tinha mais vontade de contar. Tive que me policiar! O tom é de absoluta sinceridade, mas não é um livro de fofocas, nem de escândalos!

16- Você está retomando seus investimentos na área de entretenimento. Como já anunciado, sua empresa de marketing, a Mais Rio, será responsável pela volta dos famosos bailes de carnaval cariocas e pela reedição da feijoada do Amaral. Como está a expectativa para esses eventos e o que trará de diferencial?

Serão os Bailes Devassa, que criei juntamente com o Alexandre Accioly, Luis Calainho e meu filho Bernardo. Estamos resgatando a tradição dos grandes bailes, com cuidadosa produção que conta com a criação cenográfica de Mario Monteiro, montagem de Abel Gomes, produção artística de Haroldo Costa. Só craques!

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