A Ambev ultrapassou a Vale e se tornou a empresa privada de maior valor de mercado entre as companhias com ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Líder no mercado brasileiro, com participação próxima a 70%, a empresa segue de vento em popa e busca espaço para se destacar ainda mais. No time de gestores, a companhia conta com o vice-presidente de Vendas, Ricardo Tadeu, um profissional de destaque, que aposta no potencial do Brasil.
Segundo ele, mesmo com a crise financeira, o mercado interno brasileiro mantém o ritmo de consumo, sobretudo pelo aumento da renda e ascensão da classe C. “A conjuntura mundial é adversa e não terá uma recuperação tão imediata porque são problemas crônicos que as nações envolvidas estão enfrentando e o Brasil acaba sendo impactado. Entretanto, pelo potencial do mercado interno e também em função da sensação positiva de se tornar sede de uma Copa do Mundo e de uma Olimpíada contribui para a economia brasileira”, ressalta.
Apesar dos percalços causados por crises financeiras e alta das cargas tributárias, na última década o lucro da Ambev chegou a R$ 41 bilhões. Ao longo de 2011, a empresa manteve os investimentos, que atingiram R$ 2,6 bilhões. Para este ano, já estão previstos R$ 2,5 bilhões. Aumentar a presença nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste esteve entre os objetivos do ano passado, que se mantêm em 2012. Para Ricardo Tadeu, os locais são estratégicos e ainda há muito espaço para crescer.
De olho no setor de bares e restaurantes, a empresa também passou a oferecer, desde o ano passado, a franquia Nosso Bar (www.redenossobar.com.br). A ideia é contribuir para o negócio dos micro e pequenos empreendedores. O projeto, pioneiro neste segmento, busca incentivar os estabelecimentos e desenvolver o bar popular, respeitando as características de cada bairro e franqueado.
De acordo com o executivo, a franquia contribui para que o bar, além de oferecer melhor atendimento e qualidade dos produtos, passe a proporcionar um ambiente mais agradável e familiar.
Ricardo Tadeu atua na Ambev desde 1995. Ele que entrou para a Universidade Cândido Mendes aos 12 anos, gradou-se em L.L Master of Laws e foi o mais jovem mestre em Direito Internacional que passou pela Universidade de Havard, desde a sua fundação. Na companhia de bebidas, esteve em diversos cargos na área de finanças, vendas e distribuição direta.
Nesta entrevista exclusiva, o executivo avalia o mercado brasileiro e internacional, as oportunidades e as dificuldades com as crises na economia mundial. Ele ainda avalia o momento vivido pela Ambev e o papel da empresa como líder no mercado brasileiro.
É possível dizer que a Ambev vive o melhor momento de sua história?
Vivemos um bom momento em que estamos buscando cada vez mais inovações em termos de produtos e serviços, como a nova rede de franquias (Nosso Bar), material de merchandising transferindo poder de compra ao varejista e embalagens retornáveis. É um momento muito positivo e destacar se é o melhor momento é bastante relativo, mas temos conseguido trazer produtos e serviços que despertam interesse do consumidor e dos nossos clientes.
Quais são suas expectativas com relação ao mercado brasileiro?
Estamos cautelosamente otimistas. Claro que o Brasil sofre com as consequências de uma crise que é global, que não será curta, e que vem desde 2008, 2009. A conjuntura mundial é adversa e não terá uma recuperação tão imediata porque são problemas crônicos que as nações envolvidas estão enfrentando e o Brasil acaba sendo impactado. Entretanto, pelo potencial do mercado interno e também em função da sensação positiva de se tornar sede de uma Copa do Mundo e de uma Olimpíada contribui para o mercado e para a economia brasileira. Gera um clima positivo e colabora para que possamos passar por isso com resultados acima da média no período.
Mesmo sendo líder do mercado brasileiro de cerveja, com aproximadamente 70% de participação, a Ambev está sempre em busca de conquistar o consumidor brasileiro. Qual é o limite?
Chegamos à conclusão de que o papel do líder é desenvolver o mercado e a empresa busca cada vez mais não navegar em sabor da situação econômica. Procuramos encontrar oportunidades em que seja possível desenvolver o nosso negócio. Além disso, apostamos no entretenimento, investir em eventos, carnaval, festas e eventos por todo país. É importante procurar quais são as ocasiões e oportunidades que podem gerar benefícios para a marca. Estar com o consumidor em momentos de festa é fundamental. A ideia é fazer do bar a opção número um dos brasileiros e fortalecer o entretenimento dentro do bar. Fazer com que o ambiente do bar seja melhor, seja um ambiente mais familiar e que não seja algo tão masculino. Com isso, será possível registrar o desenvolvimento do nosso cliente e também do nosso negócio.
A franquia Nosso Bar é uma aposta da Ambev no intuito de desenvolver os estabelecimentos de todo país. Qual o benefício para os franqueados?
Pesquisamos muito para fechar o modelo do Nosso Bar e a ideia é contribuir para o crescimento do negócio dos estabelecimentos mantendo a especialidade de cada um deles. O nome do bar e o espaço continuam sendo individuais porque esse contato do dono com sua clientela faz a diferença. Temos a atenção e o cuidado para manter as características do estabelecimento. Porém, a franquia leva a qualidade dos materiais utilizados e tem toda uma preocupação para que a infraestrutura seja bem-feita. Além disso, mostra que um bom atendimento é essencial, servir a bebida no balde com gelo, ter banheiros masculino e feminino. É fundamental mudar essa cultura para ter um ambiente em que seja possível trazer toda a família. Com o Nosso Bar também queremos espalhar a ideia de que investir no ambiente traz benefícios e queremos que a ideia seja copiada, porque se o cliente puder inspirar o consumidor, eles vão atrair mais clientes que irão consumir.
O aumento do IPI para bebidas frias, a partir de 1º de outubro, pode influenciar nas vendas da empresa?
O aumento do IPI sempre tem impacto nos negócios. O setor já é prejudicado por diversos custos de distribuição, leis trabalhistas, alta do dólar e a elevação de tributos complica mais ainda. Esta alta prejudica todo um setor e as pessoas pensam que estão taxando a Ambev, mas imagina o número de empresas envolvidas nisso, transportadoras que damos emprego pelo volume das nossas vendas, o número de bares e restaurantes que empregam várias pessoas. Fazemos parte de uma cadeia de bebidas e alimentos. Estamos mantendo as negociações, mas ainda não tivemos sucesso. A Abrasel tem papel importante nisso já que está ajudando a empresa nesse esforço junto ao governo.
O que fazer para se manter líder no mercado?
Sem dúvida, nunca se acomodar porque o mercado é extremamente competitivo e demanda pessoas bem preparadas. O segredo para dar errado é se acomodar achando que essa liderança irá permanecer para sempre. Pelo contrário, é preciso criar coisas novas para no final fazer jus a sua posição.
A Ambev estimou investimento de R$ 2,5 bilhões em 2012 e grande parte será destinada ao Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Qual o objetivo de investir nessas regiões?
Investir nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste é uma estratégia da empresa em função de essas regiões estarem crescendo. Acreditamos que essas regiões serão um impulsionador para o crescimento da Ambev. Vale ressaltar que as regiões registraram aumento da renda e também crescimento do mercado consumidor. O Nordeste, por exemplo, é a região mais competitiva do mercado e há espaço para todas as empresas crescerem na região, mas é logico que vamos tentar fazer isso em uma velocidade mais rápida que os concorrentes. As ações de marketing já são mais regionalizadas, não só nessas regiões, mas em demais estados brasileiros em função de serem culturas diferentes e é preciso se adaptar.
O lucro da empresa na última década chegou a R$ 41 bilhões. O que foi feito em situações adversas e momentos de desaceleração da economia e aumento da carga tributária do setor?
Em momentos ruins, apostamos sempre nos nossos negócios no Brasil e investimos bastante independentemente do momento vivido pelo país. Mesmo em momentos de crise é preciso investir porque nenhuma conjuntura adversa é permanente, sobretudo no Brasil em que as recuperações são possíveis e há como obter o retorno do investimento. Sempre tentamos olhar pra dentro de casa para pensar no que podemos melhorar e para sermos mais produtivos.
A Ambev tem investido no aumento da participação das marcas ‘premium’ (Bohemia, Original, Stella Artois e Budweiser) no Brasil. Como está a aceitação do consumidor?
As marcas premium deram uma guinada nos últimos anos. Ficamos muito surpresos com a aceitação da Budweiser, por exemplo, marca norte-americana recém-adquirida no final do ano passado. Esperávamos metade do volume de vendas que foi atingido e o mais interessante é que aconteceu sem prejuízo das outras marcas (Brahma, Antarctica e Skol). Isso mostrou que o mercado está cada vez mais interessado nesse tipo de produto. O consumidor está mais exigente e se interessa pelas cervejas premium. Ter acesso a essas marcas de cerveja é uma das vantagens de ser uma empresa global.
Qual sugestão você daria aos proprietários de bares e restaurantes?
Todos precisam ter objetivos e sonhos. Se me caracterizo por ser uma choperia, vou buscar ser a melhor choperia da região em que atuo. Ter uma meta, um sonho é algo relevante para um negócio. Além disso, é preciso dividir esse objetivo com as pessoas que trabalham com você. Passa a ser algo estimulante para toda a equipe.